A singularidade do ministério pastoral
- Pr. Manolo Damasio
- 11 de abr. de 2012
- 4 min de leitura
Esta reflexão foi gerada no ventre de um pastor em início de carreira. O tom inflamado é próprio daqueles que ainda não sabem direito "como entrar e como sair". Reflete o destemor da juventude, perigoso na proporção de seu ímpeto. (Pode ser que haja alguma vantagem nisso.)
Alguém com mais quilometragem poderia ter uma nota de roda-pé caprichada. Entretanto, minhas ponderações são apenas o resultado de observações. Trazem consigo mais sentimentos do que a aplicação de métodos científicos. Por isso, perdoem-me os eruditos.
Quem sabe os mais experientes tenham se acostumado. Alguns, machucados, podem ter colocado no "ponto morto", deixando acontecer. O cinismo para muitos acaba sendo a opção menos dolorida — "é assim mesmo", não tem muito o que fazer. Pode ser que se eu deixasse para analisar mais tarde não me restaria coragem para dizer mais nada.
Meu chamado ao ministério pastoral foi uma surpresa, inclusive para mim, ou porque não dizer, especialmente para mim. Não foram poucas as vezes que eu me perguntei sobre a razão dessa iniciativa divina. Qual seria minha contribuição? O que Deus realmente quer de mim?
Na medida em que eu convivi com os pastores, pude notar como eram diferentes, apesar de fazerem coisas tão parecidas. Minha admiração era evidente por alguns. Imitá-los me pareceu até um bom plano. Contudo, acabei descobrindo que eu não poderia usar uma armadura sem as minhas medidas. A identidade de um pastor está diretamente relacionada ao propósito de Deus e a missão que Ele tem para o Seu servo. Homens diferentes, usando diferentes formas, atingindo diferentes pessoas, para um mesmo fim.
O chamado (divino) do pastor é sua credencial; suas características, a recomendação. Ele e não outro. Chamado personalizado para um ministério personalizado. O que um pastor é, está diretamente ligado ao que ele faz ou à maneira como desempenha suas tarefas.
Na intenção de unificar os esforços, não estaríamos neutralizando algumas particularidades ministeriais? Pode soar como uma ameaça à unidade institucional. Mas, é exatamente o que lhe garante a eficácia.
O quê fazer é prescrito na revelação — "buscar e salvar o perdido" — neste sentido, ninguém deveria isolar-se. O por quê fazer também é revelado na Bíblia — o amor é a única motivação verdadeira. Chamo a atenção ao como fazer. O como é a digital do pastor. Ali seus contornos são evidenciados e as filhos de Deus são alcançados de forma variada.
Ajustar o método pelas características do pastor e do rebanho exige empenho e estratégia. Quando não são feitos esforços nesta direção, pensar não é tão necessário. O modelo verticaliza-se. "É assim porque disseram que é assim." Receber tudo mastigado pode levar à acomodação e a sensação de que é preciso ter sempre alguém criando e ditando o trabalho do outro.
A singularidade ministerial não resultaria em divisão de esforços porque a missão é uma só. Qualquer iniciativa deveria ser resultante da grande comissão.
Os riscos são evidentes. Mas, temos base para agir assim quando observamos a estratégia de Jesus. Depois de Sua partida, o projeto para abalar e evangelizar o mundo dependia daquele grupo de discípulos, aparentemente, nada promissor. Contudo, Jesus garantiu o sucesso do Seu plano concedendo o dom do Espírito sobre aquelas pobres almas disfuncionais.
No dia de Pentecostes vemos Pedro assumindo papel de destaque ao pregar destemidamente à vasta multidão. Por que ele falou? Oras, porque era sempre ele que falava! Os evangelhos mostram suas constantes trapalhadas. Ele foi chamado e usado poderosamente. O mesmo Pedro, agora aperfeiçoado pelo Espírito.
Posteriormente, uma outra figura é chamada de forma singular. Classificado por Ellen White como o maior recrutamento de Jesus, Paulo compara a igreja a um corpo. Uma analogia, que no meu ponto de vista poderia também exemplificar o ministério pastoral.
"Se todos fossem olho, onde estaria o olfato?" [...] "Ele concede a cada um visando a um fim proveitoso". Ele que "distribui a cada um, individualmente, como Lhe apraz". I Coríntios 12:17, 7 e 11.
Um dia fomos chamados pessoalmente pelo Senhor. Sua voz não seria mais ouvida ao longo do ministério que Ele mesmo designou para cada um dos seus servos?
Qual a razão do seu chamado? A que você veio? Qual sua particular contribuição?
Deus Se calaria em relação às questões fundamentais do ministério ordenado por Ele mesmo?
"Desde Sua ascensão, Cristo tem conduzido Sua obra na Terra por meio de escolhidos embaixadores e por cujo intermédio Ele fala aos filhos dos homens e ministra suas necessidades. A grande Cabeça da igreja dirige Sua obra através da colaboração de homens ordenados por Deus para agir como Seus representantes." Atos dos Apóstolos, pág. 200.
"Deus não espera que, com seus diferentes temperamentos, cada um dentre Seu povo esteja preparado para todo e qualquer lugar. Lembrem-se todos de que há variedade de legados. Não é o trabalho de qualquer homem prescrever a obra de qualquer outro homem, contrariamente a suas próprias convicções do dever. É direito dar conselho e sugerir planos: mas todo homem deve ser deixado na liberdade de buscar direção de Deus, a quem pertence e a quem serve." Testemunhos Seletos, vol. 2, pág. 27.
Sou levado a crer que um chamado não vem desacompanhado de uma missão específica.
Creio que há uma grande necessidade de voltarmos ao ponto mais puro do nosso ministério. Quando nada era mais importante do que fazer a vontade dAquele que nos chamou à exclusividade de Sua missão. E ouvir dEle, diretamente, o propósito de nossa vocação.
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