Ministério ou profissão
- Pr. Manolo Damasio
- 26 de abr. de 2012
- 6 min de leitura

Em sua obra, "Um recado para ganhadores de almas", Horatius Bonnar afirma que o primeiro pecado ministerial é o de alistar-se voluntariamente, sem um chamado do Senhor.
Não há um padrão. Cada indivíduo tem sua experiência, tão singular quanto ele próprio. Deus pode tirar um homem de um balcão no supermercado da cidade, do alto escalão de um banco, interromper uma carreira internacional ou visitar alguém na lavoura.
Há os que vem de famílias abastadas como Eliseu ou da vida simples como os filhos de Zebedeu. Uns precisam cortar os laços com o passado, tipo Abraão. Outros são consagrados desde a infância como Samuel. Alguns herdam a vocação dos pais outros surgem como uma estranha surpresa, estão aí Isaque e Amós como exemplos.
Ainda que as pessoas sejam diferentes, não podemos negar as similaridades na natureza do chamado. A convocação não estava associada ao potencial evidente no indivíduo, mas à disposição dele. Não ao talento humano, mas à suficiência divina. Não eram apresentadas vantagens, antes, os desgostos inerentes à missão específica.
Isaías foi chamado a fazer algo que não funcionaria enquanto Abraão a tomar posse de uma herança que somente os seus tataranetos desfrutariam. Jeremias foi acusado de traição, Elias também. Entre a unção e o trono, Davi andou como bandido em cavernas. E o que dizer de Moisés? Décadas de dedicação sem o devido respeito e gratidão.
Não há dúvida de que sacrifício e resignação fazem parte do ministério. Pelo menos deveria. Foi assim no momento mágico do chamado. Naquele instante nada mais fazia sentido se não obedecer, avançar destemidamente no cumprimento do dever sem calcular os riscos.
Estávamos tão certos disso que jogamos tudo para o alto. Muitos de nós vimos os recursos brotarem na "boca de corvos". Milagres a cada passo enquanto nos preparávamos para servir à igreja.
Entretanto, surgiram ameaças. O risco de medir o êxito ministerial por posições conquistadas e não pela fidelidade à missão. Abandonar o posto do dever ao perder o Senhor de vista. Olhar para o lado fazendo comparações. Distrair-se com o "e deste que será?" negligenciando o "quanto a ti, siga-me". João 21:21, 22.
A vida fácil virou um alvo. Você começa simples, mas, se for bem, terá a chance de sair do interior. Cada etapa do ministério vai se tornando um degrau para crescer. Igrejas maiores em grandes centros com maior visibilidade. Se cumprir bem o papel, depois destes estágios, é natural assumir um departamento. Se for muito bom, ocupar um cargo administrativo é uma questão de tempo.
Não me interprete mal. Sempre haverá necessidade de termos pastores ocupando as mais variadas funções. Igrejas grandes precisam de pastores. Departamentos carecem de especialistas e cada região depende de líderes para administrarem os esforços da igreja. O problema não é a função, mas quando ela é desejada a qualquer custo.
Quando homens não mais permitem serem dirigidos pela voz que os chamou, tomando para si o controle da vida, fazendo adaptações para galgarem este ou aquele cargo, tornam-se escravos da ambição. Sua motivação foi corrompida, sua vocação estragada.
Como pode alguém achar demérito servir em lugares distantes, que alguém um dia julgou inferior. Não é rara a expressão "caiu" quando um pastor precisa deixar o escritório de uma sede administrativa para voltar a cuidar de uma igreja. Nesta perspectiva, Jesus teria cometido um grande erro ao Se submeter vir ao nosso perdido e estragado planeta.
O Mestre disse: "entre vós não é assim. Quem quiser ser o primeiro, seja servo de todos". Marcos 10:43. Estas palavras foram ditas depois que dois dos discípulos de Jesus manifestaram o desejo de ocupar as posições mais elevadas no Reino. Cristo não negou o fato dessas posições existirem, mas reprovou o desejo em obtê-las.
Adaptar-se para alcançar uma posição é tornar-se refém da circunstâncias. Os que renegam suas características passam a fazer coisas para agradar os que lhe favorecem, podendo passar a vida inteira se adaptando para manterem a posição que alcançaram, e que nunca lhes foi designada pelo Senhor. O que parece ser um eco das palavras de Oséias: "Eles fizeram reis, mas não por mim; constituíram príncipes, mas eu não o soube" (8:4).
Pastores possuem um ministério, não uma carreira.
Muitos perdem a pureza e a alegria por terem deixado o caminho que o Senhor lhes traçou. Como saber qual o caminho? Da mesma forma como um dia soube que foi chamado ao ministério! Um comandante deixaria seus homens às cegas no campo de batalha?
"Não fora uma pequena prova aquela a que foi assim submetido Abraão, nem pequeno o sacrifício que dele se exigira. [mas... ] Deus falara, e Seu servo devia obedecer; o lugar mais feliz da Terra para ele seria aquele em que Deus quisesse que ele se achasse." Patriarcas e Profetas, pág. 81.
Alguns podem questionar decisões administrativas, mas particularmente, a culpa reside em cada um que não tem buscado entender qual é o plano de Cristo para o seu ministério. Não será preciso explicar decisões além de nossa competência que influenciaram nosso destino. Uma mão invisível mantém sob controle o curso dos acontecimentos. Entretanto, quando estamos na posição de decidir, o cuidado deve ser muito maior.
Seria razoável um ministro recusar uma transferência por ter comprado um imóvel ou quando alguém com ele argumenta que "não vale a pena" aceitar tal e tal chamado pelas dificuldades da região que o requisita ou porque o campo local tem planos melhores para o obreiro? Desde quando decisões ministeriais são tomadas a partir de vantagens pessoais?
Vivi uma crise nos meus dois primeiros anos de ministério. Minha ideia romântica estava baseada na teoria de que ao pregar as pessoas ouviriam. Poucos meses foram suficientes para eu comprovar a insuficiência dos meus esforços. Entrei em desespero.
Numa tarde de sexta-feira, fui a um supermercado e acabei encontrando casualmente um colega pastor. Ele era um homem experiente e alguém que eu respeitava muito. Movido pelo desespero, abri meu coração ali mesmo entre as frutas e verduras. Não sei se ele entendeu exatamente o meu drama, mas me disse uma frase que eu não consegui esquecer: "mantenha salva sua alma".
"Os que são escolhidos por Deus para a obra do ministério darão prova de sua alta vocação e por todos os meios possíveis procurarão desenvolver-se em obreiros capazes. Esforçar-se-ão por alcançar uma experiência que os capacite a planejar, organizar e executar. Apreciando a santidade de seu chamado desejarão, por autodisciplina, tornar-se mais e mais semelhantes a seu Mestre, revelando Sua bondade, amor e verdade. Ao se mostrarem fervorosos em desenvolver os talentos a eles confiados, a igreja os deve ajudar judiciosamente." Atos dos Apóstolos, pág. 197.
"Se alguém, ao entrar nesta obra, escolher a parte que demanda o menor sacrifício, contentando-se com pregar, e deixar a obra de ministério pessoal para outro, seu trabalho não será aceito por Deus. Pessoas por quem Cristo morreu estão perecendo por falta de trabalho pessoal bem dirigido; e tem se enganado a respeito do chamado quem, ao entrar para o ministério, não se dispuser ao trabalho pessoal que o cuidado do rebanho requer." Atos dos Apóstolos, pág. 296.
"A cada homem é dado seu trabalho. Os que ingressam no ministério, empenham-se numa obra especial e devem dedicar-se à oração e à pregação da Palavra. Sua mente não deve ser sobrecarregada com assuntos comerciais. Durante anos o Senhor tem estado a me instruir a fim de que eu advirta nossos irmãos do ministério contra o fato de permitirem que sua mente fique preocupada com negócios, de maneira que não disponham de tempo para comunhão com Deus e companheirismo com o Espírito." Evangelismo, pág. 91.
[apelo a Camright] "A alegria, o êxito, a glória de vosso ministério, é estar sempre pronto, de ouvido atento para atender ao chamado do Mestre: 'Eis-me aqui; envia-me a mim.' Isaías 6:8. Aqui, Senhor, com as melhores e mais santas afeições de meu coração; aqui, toma-me a mente com seus mais puros e nobres pensamentos, toma-me e habilita-me para Teu serviço."Mensagens Escolhidas, vol.2, pág. 168.
"O ministério não é lugar para ociosos. Os servos de Deus devem dar plena prova de seu chamado. Não devem ser preguiçosos, mas, como expositores da Palavra, devem aplicar as melhores energias a fim de serem encontrados fiéis. Jamais devem deixar de ser aprendizes. Devem manter sua própria alma desperta para a santidade da obra e a grande responsabilidade de seu chamado, a fim de que jamais apresentem algum sacrifício mutilado, uma oferta que não lhes tenha custados estudo e oração. O Senhor necessita de homens de intensa vida espiritual. Cada obreiro pode receber uma dotação de poder do alto, avançando pela fé e esperança no caminho que Deus lhe indica a trilhar. A Palavra de Deus permanece no obreiro jovem e consagrado. Ele é ágil, sincero e poderoso, possuindo sua infalível fonte de suprimento no conselho de Deus." Testemunhos, vol.6, pág. 412.
No questionamento feito a Elias — "Que fazes aqui? Te mandei Eu?" — percebemos o risco de tomar nas mãos a direção do ministério. Quanto tempo o Senhor levaria pra nos colocar nos trilhos novamente?
A ideia foi dEle, e é dEle a responsabilidade enquanto estiver no controle.
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