Certamente virá
- Pr. Manolo Damasio
- 20 de out. de 2012
- 3 min de leitura
Sinto muito orgulho por fazer parte de um movimento profético. Não foram raras as vezes que me reportei ao evento de 22 de outubro de 1844 com satisfação. Contudo, devo confessar que, de uns dias pra cá, minha percepção foi afetada.
A confiança permanece intacta embora meus sentimentos tenham sofrido uma mudança significativa. A razão: um episódio ocorrido na semana passada.
Cerca de 120 pessoas, incluindo crianças a idosos, aguardaram em Teresina, capital do Piauí, o fim do mundo. O líder do movimento, o ex-vigilante, Luiz Pereira, 43 anos, diz ter recebido a visita de um anjo com a mensagem de que o mundo acabaria no dia 12 de outubro deste ano.
Os que aderiram ao movimento deixaram seus trabalhos, as crianças abandonaram a escola e confinaram-se na "Arca", termo usado para identificar a casa onde aguardavam o fim de todas as coisas.
No horário previsto, alguns que, por via das dúvidas, pediram orações nos arredores da "Arca", revoltados com o falso profeta, começaram a jogar pedras na casa e nos policiais que faziam o cordão de isolamento. Pereira acabou detido para dar esclarecimentos.
Todo o ridículo pelo qual passaram aquelas dezenas de pessoas e o líder do movimento me fizeram refletir no gosto amargo do desapontamento dos mileritas no século XIX. A vergonha tem um poder arrasador. Às vezes, maior que a ameaça e o sofrimento.
É desafiador pensar que o Senhor já havia previsto a decepção daqueles poucos milhares de pessoas, que semelhante ao grupo de Teresina, também deixaram seus trabalhos, a lavoura sem colheita, venderam propriedades para financiar a urgente pregação, etc.
Mais tarde, Hiran Edson, um estudioso da Bíblia que aguardava a volta de Jesus no outono de 1844, descreve o quadro de forma emocionante:
"Nossas expectações haviam-se elevado alto, e assim aguardávamos a vinda de nosso Senhor, até que o relógio soou as doze horas da meia-noite. O dia havia-se passado então, e nosso desapontamento havia-se tornado uma certeza. Nossas mais fundas esperanças e expectações foram derruídas, e sobre nós veio tal espírito de pranto como jamais havíamos experimentado antes. Parecia que a perda de todos os amigos terrestres não podia ter comparação. Choramos e choramos, até que o dia raiou. Ponderando em meu coração, eu disse a mim mesmo: 'Minha experiência do advento tem sido a mais bela de toda a minha experiência cristã. ... Falhou a Bíblia? Não há Deus, nem Céu, nem cidade dourada e nem Paraíso? Não passa tudo isto de uma fábula habilidosamente engendrada? Não são reais nossas mais fundas esperanças e expectações?'" Cristo em Seu Santuário, pág. 8.
Fiquei pensando o que foi para aquele grupo experimentar a vergonha depois de tamanha decepção.
Ellen White mais tarde afirmou que o período que precedeu o desapontamento, foi o tempo mais feliz da sua vida (Testemunhos. vol. 1, pág 54). Ela também descreveu o drama dos dias subsequentes:
"Era difícil assumirmos os cuidados da vida que julgáramos para sempre deixados de lado. Foi amargo o desapontamento que atingiu o pequeno rebanho, cuja fé tinha sido tão forte, e tão elevada a esperança."
"Necessitávamos de grande paciência, pois os escarnecedores eram muitos. Éramos frequentemente abordados com irônicas referências ao nosso desapontamento anterior. 'Vocês ainda não subiram? Quando esperam subir?' e outras zombarias semelhantes eram muitas vezes lançadas sobre nós por nossos conhecidos mundanos, e mesmo por alguns professos cristãos". Ibid., págs. 54 e 55.
Diante da Igreja há um período singular. Bênçãos e poder foram prometidos à última geração de fiéis na proporção de suas provas. Será que estamos preparados para o que virá? Nossa fé está firmada no Senhor? Temos tido comunhão com Ele através da Palavra e da oração?
Independente do que se diz por aí… "[…] a visão ainda é para o tempo determinado, e até o fim falará, e não mentirá; se tardar, espera-o, porque certamente virá, não tardará." Habacuque 2:3.
Pr. Manolo Damasio
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