Pedaço de mim
- Pr. Manolo Damasio
- 31 de mai. de 2016
- 3 min de leitura

O tema que eu mais preguei nesses quase doze anos de ministério foi o amor de Deus percebido em Jesus. Mas quer saber? Eu sabia quase nada do assunto até uma notícia começar a transformar a teoria na experiência mais profunda da minha vida.
Eu estava do lado de fora do hospital. Diante da suspeita, não admiti receber a notícia de um médico de plantão. Foi quando ela veio andando com um sorriso que jamais vou esquecer. A poucos metros, me olhando nos olhos, ela disse: “estou grávida! você vai ser pai”.
Que loucura! Depois de abraçá-la, cada um pegou o telefone e tratou de avisar os avós.
Ouvi seu coração bater pela primeira vez. Vi a barriga crescer semanalmente e me surpreendi com seus movimentos a partir de estímulos externos. Havia um elemento novo, difícil de explicar.
Foi no crepúsculo de maio, sob forte ansiedade pelo meu retorno, que a bolsa estourou às 9h da manhã de uma segunda-feira. No final deste dia, com toca e jaleco verde, entrei no centro cirúrgico.
Hoje fez 5 anos.
Quando ele sentiu a temperatura do lado de fora, ainda ligado à mãe, de olhos cerrados pelo incomodo da luz, pode parecer estranho, mas eu não estava olhando pra ele. Minha primeira visão do Noah foi através do olhar de sua mãe. Vi amor puro e despretensioso. Vi uma emoção beirando a insensatez. Vi, que eu não era mais o primeiro.
Foi quando me voltei para ele e tudo ganhou nova dimensão.
Beijei minha esposa e fui atrás do bebê. Observei atentamente os procedimentos. Admirei seu choro. Me encantei com os detalhes do seu corpo. Por alguma razão todos saíram. Ficamos só nós dois. Foi o nosso primeiro momento. “Sou o seu pai”, eu disse. Quando estendi a mão para tocá-lo, recuei. "Como eu faço isso? Onde toco primeiro? Eu vou lembrar disso para sempre", pensei. Com as costas da mão toquei o seu peito e orei.
Desde então tenho percebido que ele é um pedaço de mim, que fica andando fora do meu corpo. Um pedaço de mim que não cabe aqui dentro.
Jesus surpreendeu ao ensinar que nossa relação com Deus era paternal. “Pai nosso” é uma espécie de senha usada para abrir o diálogo. Não apenas o Senhor Todo-poderoso, o Juiz do Universo, Criador de todas as coisas, mas, o Pai misericordioso e compassivo.
“Vejam que grande amor nos tem concedido o Pai, a ponto de sermos chamados filhos de Deus. E de fato, somos filhos de Deus”.
Se é como Jesus ensinou, posso deduzir o que Deus sente quando me vê. Posso imaginar sua frustração com a minha desobediência. Sua alegria com o meu progresso e o esforço em acertar. Sua “euforia” com minhas respostas genuínas de amor. Sua preocupação com a hostilidade do mundo e as más influências e Seu coração palpitante na voz que chama “Papai” ao nascer um novo dia.
Respeitando as devidas proporções, se Deus sente por mim algo parecido com o que sinto pelo meu filho, estamos falando de uma “coisa” maior que o tempo e o espaço. Posso deduzir a razão de tanto esforço para salvar um filho perdido.
"Todo o amor paternal que veio de geração em geração através do coração humano, toda fonte de ternura que se abriu na alma do homem, não passam de tênue riacho em comparação com o ilimitado oceano, quando postos ao lado do infinito, inesgotável amor de Deus. A língua não o pode exprimir, nem a pena é capaz de o descrever. Podeis meditar nele todos os dias de vossa vida; podeis esquadrinhar diligentemente as Escrituras a fim de compreendê-lo; podeis reunir toda faculdade e poder a vós concedidos por Deus, no esforço de compreender o amor e a compaixão do Pai celeste; e todavia existe ainda um infinito para além. Podeis estudar por séculos esse amor; não obstante jamais podereis compreender plenamente a extensão e a largura, a profundidade e a altura do amor de Deus em dar Seu Filho para morrer pelo mundo. A própria eternidade nunca o poderá bem revelar."
Manolo Damasio, pai do Noah, filho de Deus.
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